Milhares de pessoas receberam em festa, em Mbanza Congo, o cabeça-de-lista da UNITA para as eleições gerais angolanas, Isaías Samakuva, que se estreou em acções de campanha na província do Zaire (Norte). O Galo Negro está em aceleração total na recta final da campanha.
Os apoiantes de Isaías Samakuva – jovens vestidos com camisolas com as palavras de ordem do partido – acompanharam a chegada dos carros da comitiva do candidato, a bordo de carrinhas apinhadas de gente, em pequenos autocarros e em dezenas de motorizadas.
Muitos fizeram um cordão humano – com as mãos dadas – em torno dos carros da comitiva, enquanto entoavam a canção de campanha da UNITA e gritavam palavras de ordem como “Samakuva number one”, uma referência ao facto de o candidato do partido do Galo Negro ser o primeiro colocado nos boletins de voto.
Naquela que foi a primeira acção de campanha na província do Zaire, a recepção a Samakuva provocou um engarrafamento na pequena localidade de Mbanza Congo, que se notabilizou recentemente por albergar as ruínas do centro histórico – incluindo a Catedral de São Salvador do Congo – classificadas como património da humanidade pela UNESCO. Trata-se da primeira classificação do género atribuída a Angola por aquela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura.
Em declarações aos jornalistas à chegada à sede local do partido, Isaías Samakuva disse que trazia aos eleitores de Mbanza Congo uma mensagem de mudança, lembrando que a população da província deveria estar a beneficiar de parte dos lucros do petróleo que nela é extraído.
“Temos uma mensagem clara, que fala da necessidade de mudança. Nós podemos dar muita coisa [aos cidadãos zairenses]. A mudança de que estamos a falar é profunda, porque foca aspectos da vida social, política e económica”, disse o candidato da UNITA.
A questão do petróleo também é tema em agenda no Zaire, que inclui – além de um comício em Mbanza Congo – uma acção de massas em Cuimba e uma visita à região petrolífera do Soyo.
“Foram prometidos 10% dos lucros do petróleo para esta província, mas os 10% nunca apareceram”, salientou Samakuva.
A festa da UNITA durou pela noite dentro, com os apoiantes a entoarem o refrão da canção de campanha: “Primeiro o angolano, segundo o angolano, terceiro o angolano. Angolano sempre”.
Questionado sobre o local de origem dos apoiantes – nomeadamente se o partido fez deslocar os jovens para o local dos comícios – o director de protocolo do candidato da UNITA afirmou que os populares que receberam em festa o candidato são da região.
Angola realiza eleições gerais no próximo dia 23, num acto eleitoral marcado pela ausência do Presidente Eduardo dos Santos – há 38 anos no poder – do boletim de voto, pelas sistemáticas e generalizadas acusações de fraude, pela manifesta subserviência da Comissão Nacional Eleitoral ao regime e também pela ausência de observadores da União Europeia.
Recorde-se que, em termos de campanha eleitoral, a UNITA recusou conceder à televisão do MPLA uma entrevista com Isaías Samakuva, e vai prescindir da cobertura da TPA no resto das suas acções de campanha.
O mandatário de campanha da UNITA, Estêvão José Pedro Katchiungo, considerou que a TPA não está a dar um tratamento igual às forças políticas envolvidas em campanha eleitoral, algo que, acusou, “viola os princípios éticos, o código de conduta dos jornalistas e a lei eleitoral”.
A UNITA, tal como os restantes partidos concorrentes, sabe que a TPA é um mero instrumento de propaganda do MPLA. Contudo, falar de princípios éticos e de deontologia jornalística num bordel que só serve para branquear os crimes cometidos pelo regime é errado. Aquela sarjeta do regime, tal como a RNA e o Jornal de Angola, são tudo menos órgãos de comunicação social. Daí não ser correcto misturar jornalistas com prostitutos.
“Isto está a tomar contornos de crime (…) É escandalosamente desproporcional o tempo e o destaque dado pelos órgãos de comunicação social estatais” ao candidato do MPLA, João Lourenço, em detrimento dos restantes cabeças-de-lista, considerou o responsável da UNITA.
Seria um escândalo se a TPA fosse um órgão púbico e, portanto, de Angola. Mas como é um órgão do MPLA, até se compreende que tudo faça para agradar ao patrão. Numa democracia e num Estado de Direito tal não seria permitido, mas como Angola não é nada disso…
Numa carta enviada hoje ao Conselho de Administração da TPA (Comité Central do MPLA), o mandatário da UNITA formalizou a recusa da UNITA em conceder à televisão uma entrevista com o seu presidente, Isaías Samakuva.
Estêvão José Pedro Katchiungo considerou na missiva “não ser de interesse público o expediente alternativo das entrevistas individuais (…) pelo que declinamos o convite que nos foi formulado para uma entrevista ao candidato da UNITA para o próximo dia 14 de Agosto”.
Para a UNITA, à medida que avança a campanha para as eleições gerais de 23 de Agosto, a TPA tem vindo a converter-se “numa autêntica máquina de propaganda político-partidária que utiliza o património público e os seus espaços privilegiados para publicitar a plataforma político-eleitoral do partido MPLA e do seu cabeça-de-lista”, João Lourenço.
Embora seja verdade, não é novidade. Há 42 aos que a TPA desempenha este papel de criada para todos os serviços determinados por quem é o seu dono. Sempre ao serviço do MPLA, durante os últimos 38 anos bajulou sem limites o seu patrono, José Eduardo dos Santos. Agora virou-se para o seu delfim, João Lourenço.
Por isso mesmo, disse o mandatário do Galo Negro, a UNITA vai “prescindir da cobertura da TPA nas restantes acções de campanha”. “Convidamos a TPA a não estar presente”, sintetizou Estêvão José Pedro Katchiungo.